Brasil tem uma das maiores taxas de jovens fora da escola e do trabalho

Relatório internacional aponta falhas na educação, no acesso ao emprego e na transição para a vida adulta

Terça, 16 de Dezembro de 2025

Márcia Pinheiro


Brasil tem uma das maiores taxas de jovens fora da escola e do trabalho

Imagem: Ilustrativa / Freepik

O relatório Education at a Glance 2025, divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), lança luz sobre uma realidade que já ecoa nas ruas, nas famílias e nas comunidades: o Brasil está entre os países com maior número de jovens que não estudam nem trabalham. Segundo o levantamento, 24% dos brasileiros entre 18 e 24 anos vivem completamente afastados tanto da educação quanto do mercado de trabalho — quase o dobro da média internacional, que é de 14%.

O índice coloca o país atrás apenas de Costa Rica, África do Sul e Colômbia, revelando um cenário marcado por dificuldades de acesso à educação, estagnação do mercado de trabalho, desigualdades históricas e a ausência de políticas públicas consistentes para a transição da juventude para a vida profissional.

O relatório chama atenção para um aspecto muitas vezes negligenciado no debate público: os efeitos da inatividade prolongada sobre a saúde mental e o desenvolvimento socioemocional dos jovens. A falta de perspectivas aumenta significativamente o risco de ansiedade, depressão e isolamento social, fragilizando vínculos familiares e comunitários e comprometendo não apenas o presente, mas também o futuro de toda uma geração.

Outro ponto crítico destacado pela OCDE é o modelo de acesso ao ensino superior no Brasil. O país está entre os poucos que utilizam exclusivamente provas acadêmicas como critério de seleção. Em contraste, 29 países adotam avaliações combinadas, que consideram histórico escolar, perfil do estudante, competências socioemocionais e experiências formativas. De acordo com a organização, esse modelo mais amplo contribui para reduzir desigualdades e ampliar oportunidades.

Como caminhos possíveis, o relatório recomenda a expansão do ensino técnico, a revisão dos processos seletivos e o fortalecimento de parcerias entre escolas e empresas, facilitando a inserção dos jovens no mercado de trabalho. Portugal é citado como exemplo positivo, após investir na ampliação de cursos profissionais e na construção de uma ponte mais sólida entre educação e empregabilidade.

Diante desse cenário, o desafio lançado à sociedade é coletivo. Para além de números e rankings, o relatório convida governos, instituições educacionais, igrejas e organizações sociais a olharem para a juventude com responsabilidade, esperança e compromisso, reconhecendo que investir em educação, trabalho e cuidado integral é também investir em dignidade e futuro.

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