Regime intensifica repressão contra igrejas não registradas
Segunda, 04 de Agosto de 2025
Márcia Pinheiro

Imagem: ilustrativa / Criada com IA ChatGPT
As autoridades chinesas prenderam o pastor protestante Huang Yizi, acusando-o de "operações comerciais ilegais". A prisão ocorreu semanas após ele e outros membros de sua igreja serem detidos durante mais uma onda de repressão do Partido Comunista Chinês contra cristãos que se reúnem fora das igrejas controladas pelo Estado.
O grupo Christian Solidarity Worldwide (CSW), sediado no Reino Unido, informou que Huang recebeu a notificação formal de prisão nesta semana, mais de um mês após ser levado sob custódia por agentes da Segurança Pública do distrito de Pingyang, em 26 de junho. Na ocasião, outros quatro cristãos foram detidos junto com ele.
Os membros do grupo, oriundos das igrejas de Ningbo, Quzhou e Taizhou — todas na província de Zhejiang — foram colocados em detenção administrativa já no dia seguinte. Na última sexta-feira, dois deles foram liberados sob fiança, enquanto Huang e os outros dois permanecem presos. As autoridades ainda não divulgaram as acusações contra os demais.
Outro cristão, também membro da igreja, foi preso no dia 17 de julho e continua detido até o momento.
Segundo a Lei de Processo Penal da China, as autoridades têm até 30 dias após uma detenção para apresentar um pedido formal de prisão à Procuradoria. O representante de Huang acredita que o caso foi encaminhado no último dia permitido, 25 de julho. Contudo, ele descobriu que a prisão já havia sido aprovada e publicada no site da Suprema Procuradoria Popular no mesmo dia, o que levanta suspeitas sobre a real profundidade da análise judicial e a falta de transparência do processo.
O pastor recebeu a notificação oficial na quarta-feira. As autoridades informaram que a revisão foi concluída na segunda-feira e a prisão aprovada na terça-feira. Seu representante denunciou a rapidez incomum do processo e a ausência de documentos legais adequados.
Huang Yizi já havia sido preso em 2014 por protestar contra a remoção forçada de cruzes em igrejas na cidade de Wenzhou. Na ocasião, ele cumpriu um ano de prisão. Menos de um mês após sua libertação, foi detido novamente, em 12 de setembro de 2015, acusado de "colocar em risco a segurança nacional", e permaneceu quase cinco meses em regime de vigilância residencial. Antes dessas ações repressivas, sua igreja era afiliada ao Movimento Patriótico das Três Autonomias, a organização estatal que supervisiona as igrejas protestantes reconhecidas oficialmente na China.
O Grupo Chinês de Advogados de Direitos Humanos denunciou o uso de acusações vagas, como “operações comerciais ilegais”, para silenciar e prender líderes religiosos. Segundo eles, a gravação e distribuição de sermões se enquadram na liberdade de crença protegida pela Constituição chinesa.
Casos semelhantes continuam a ocorrer. Em abril, um tribunal da Mongólia Interior condenou nove cristãos por revenderem Bíblias legalmente publicadas por meio de uma igreja doméstica não registrada. As sentenças variaram de um a quase cinco anos de prisão, com multas que chegaram a 1 milhão de yuans (cerca de R$ 750 mil). A acusação foi a mesma usada contra o pastor Huang.
Além disso, neste ano, o Partido Comunista Chinês implementou novas medidas que restringem ainda mais a atuação de missionários estrangeiros. Em vigor desde 1º de maio, as regras proíbem esses missionários de fundarem igrejas, pregarem ou ensinarem sem autorização. Também estão proibidos de vender materiais religiosos ou recrutar cidadãos chineses para a fé cristã.
De acordo com a Mission News Network, apenas o clero estrangeiro oficialmente convidado por organizações religiosas reconhecidas pelo Estado pode pregar. Mesmo assim, suas mensagens precisam passar pela aprovação prévia das autoridades.