Emissoras levam a Palavra de Deus a lugares onde igrejas não podem existir
Sexta, 19 de Dezembro de 2025
Márcia Pinheiro
Imagem: Divulgação / Portas Abertas
Na Coreia do Norte, a devoção pública à família governante não é opcional — é obrigatória. Desde a infância, cidadãos são ensinados a se curvar diante dos retratos de Kim Il-sung e Kim Jong-il, expostos em todas as casas, escolas e ambientes de trabalho. A recusa a esses atos não é vista como questão de consciência, mas como traição ao Estado.
A rotina da população é marcada por rituais de lealdade: recitação de slogans do governo, deposição de flores em monumentos e participação em cerimônias oficiais. Para os cristãos, porém, essas práticas representam um profundo dilema espiritual.
“Por um lado, eles sabem que não devem se curvar diante de ídolos. Por outro, se recusarem publicamente, todos os cristãos serão presos. Não haveria mais igreja”, explica Simon (pseudônimo), parceiro da organização Portas Abertas que atua no apoio aos cristãos norte-coreanos.
Uma fé vivida em silêncio
Diante da vigilância extrema, os cristãos na Coreia do Norte aprenderam a viver sua fé de forma oculta. Embora participem externamente das cerimônias impostas pelo regime, sua verdadeira adoração acontece em silêncio. Cada reverência e cada canto obrigatório se transformam em uma oração íntima: “Senhor, tu és o meu único Deus”.
Essa fé invisível é sustentada por uma profunda convicção bíblica. Simon relata que muitos cristãos se lembram da história de Naamã, em 2 Reis 5, que foi obrigado a acompanhar seu rei em um templo pagão. O profeta Eliseu lhe disse para ir “em paz”, mostrando que Deus conhecia a sinceridade do seu coração. “O mesmo é verdade para os cristãos norte-coreanos. Deus sabe que eles não estão adorando ídolos”, afirma.
Assim, seguidores de Jesus em todo o país caminham diariamente sobre uma linha tênue entre sobrevivência e fidelidade. A lealdade a Cristo é testada constantemente, mas permanece firme — ainda que escondida aos olhos humanos.
O evangelho atravessa fronteiras pelo rádio
Há mais de 20 anos, a Coreia do Norte ocupa o primeiro lugar na Lista Mundial da Perseguição, que classifica os 50 países onde os cristãos são mais perseguidos. Mesmo assim, o evangelho continua alcançando vidas de maneira surpreendente.
Apesar da repressão severa do regime, mensagens cristãs têm sido transmitidas por rádios clandestinas, que levam a Palavra de Deus a lugares onde igrejas não podem existir e Bíblias não podem circular livremente. Por meio dessas transmissões secretas, cristãos isolados recebem ensino bíblico, louvores, encorajamento e a certeza de que não estão sozinhos.
Essas rádios se tornaram uma das principais ferramentas de evangelização e fortalecimento espiritual na Coreia do Norte. Em meio ao silêncio imposto pelo regime, as ondas do rádio continuam anunciando esperança, fé e salvação em Cristo — alcançando corações que permanecem abertos ao evangelho, mesmo sob perseguição extrema.





