Legislação paquistanesa é considerada uma das mais rígidas do mundo
Quarta, 27 de Agosto de 2025
Márcia Pinheiro

Imagem: Ilustrativa / Freepik
Mais de 700 cristãos estão atualmente no corredor da morte no Paquistão, acusados de violar as rígidas leis de blasfêmia do país. Essas leis, consideradas entre as mais duras do mundo, preveem punições que vão de 10 anos de prisão até a pena capital. A denúncia faz parte do relatório “Hope Behind Bars” (“Esperança atrás das grades”), produzido pela Comissão Nacional para Justiça e Paz (NCJP) e divulgado por organizações internacionais de direitos humanos.
O estudo revela um cenário alarmante de perseguição religiosa, onde falsas acusações de blasfêmia têm sido usadas sistematicamente contra minorias, como cristãos e hindus. Além das sentenças injustas, os detentos enfrentam condições desumanas: falta de higiene, comida inadequada, ausência de cuidados médicos e tratamento cruel.
Segundo o Christian Daily International, há registros de celas insalubres, uso forçado de banheiros como fonte de água potável e falta de sabão. Um dos casos mais emblemáticos ocorreu em 2015, quando cerca de 100 cristãos foram condenados por suposto envolvimento em distúrbios. Eles foram mantidos em celas antes ocupadas por pacientes com tuberculose e privados até mesmo de cobertores — itens fornecidos a outros presos, mas negados aos cristãos.
Apesar das privações, muitos se recusam a renunciar à fé em Jesus Cristo, mesmo diante da promessa de redução de pena caso aceitassem memorizar o Alcorão ou praticar o jejum islâmico durante o Ramadã. A fidelidade a Cristo, porém, os condena a um sofrimento ainda maior dentro do sistema prisional.
A Comissão dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF) já alertou que o Paquistão possui uma das legislações de blasfêmia mais severas do planeta, atrás apenas do Irã. Na maioria dos casos, as acusações são feitas sem investigação adequada, e os julgamentos ocorrem em tribunais locais sob forte pressão de grupos religiosos extremistas.
Um raro desfecho positivo aconteceu recentemente com Ankwar Kenneth, cristão de 72 anos, que passou 23 anos no corredor da morte antes de ser absolvido pela Suprema Corte do Paquistão. Seu advogado conseguiu comprovar que Kenneth sofria de problemas mentais, o que o tornava incapaz de responder pelo suposto crime. Ainda assim, sua libertação é uma exceção em meio a um quadro de injustiça persistente.
Histórico de perseguição
A perseguição aos cristãos no Paquistão tem raízes profundas. Desde a criação do país, em 1947, como um Estado de maioria muçulmana, as minorias religiosas passaram a enfrentar discriminação social e institucional. A situação se agravou a partir da década de 1980, quando o general Muhammad Zia-ul-Haq endureceu as leis de blasfêmia, ampliando as penas e criando um instrumento de perseguição legalizada contra cristãos.
Ao longo das últimas décadas, inúmeros casos ganharam repercussão internacional. Em 2009, a jovem Asia Bibi foi condenada à morte por blasfêmia após uma discussão com vizinhas muçulmanas. Seu caso mobilizou a comunidade cristã global e, após quase 10 anos presa, ela foi absolvida pela Suprema Corte em 2018 — mas teve de buscar asilo fora do país por causa das ameaças constantes.
Além dos processos judiciais, comunidades cristãs inteiras já sofreram ataques violentos. Vilarejos foram incendiados, igrejas destruídas e famílias cristãs expulsas de suas casas sob acusações infundadas. Em muitos casos, a simples suspeita de blasfêmia tem levado a linchamentos e execuções extrajudiciais.
Atualmente, estima-se que os cristãos representem menos de 2% da população paquistanesa, vivendo sob constante medo e vigilância. Apesar da perseguição, muitos permanecem firmes na fé, testemunhando a Cristo em um dos contextos mais hostis do mundo.
Enquanto alguns poucos conseguem absolvição, centenas de irmãos e irmãs na fé seguem presos, aguardando decisões judiciais que podem custar-lhes a vida — simplesmente por confessarem Jesus Cristo como Senhor.